NOVA YORK- Barack Hussein Obama cumpre bem o seu papel de Barack Hussein Obama. Ele quer quebrar as barreiras com tato, ambição e determinação. Nada de espetáculo espalhafatoso ou a truculência verbal dos tempos de George W. Bush. Obama surpreendeu ao dar sua primeira entrevista formal como presidente a um canal de televisão do mundo árabe e o tom foi conciliatório. Após a ruptura da era Bush, existe um esforço de conserto. O presidente disse aos muçulmanos que "os americanos não são seus inimigos". Obama falou da necessidade de escutar, não ditar termos e reexaminar os "preconceitos" americanos no Oriente Mëdio.
Há conceitos arraigados. Barack Obama reiterou o compromisso dos EUA com a segurança de Israel e o seu direito à autodefesa, mas sugeriu nesta entrevista que o aliado terá que fazer "sacrifícios" para que haja um Estado palestino viável no futuro. Obama visualiza um grande cenário, no qual a questão palestina não pode ser desvinculada de outros dilemas regionais, como a crise iraniana (aqui ele também acenou com diálogo, embora mantendo a guarda), e faz parte de um amplo arco que alcança o subcontinente indiano.
Em termos imediatos, existe o conflito em Gaza e a dificuldade para que ao menos seja preservado o cessar-fogo. Outra escolha razoável de Obama foi o ex-senador George Mitchell como enviado especial para o Oriente Médio. O homem já está lá, circulando pela região. Vai gastar muita sola de sapato. Mitchell fez o mesmo no ano 2000 quando, na condição de emissário americano, conseguiu irritar israelenses e palestinos (um bom sinal), com recomendações para o congelamento da expansão dos assentamentos judaicos nos territórios ocupados e o repúdio categórico do terrorismo palestino. Seria melhor que escutassem agora, quando as oportunidades diplomáticas são ainda mais estreitas, mas não podem ser descartadas. Um ponto positivo é esta disposição do novo governo americano para um rápido engajamento.
Mitchell não fará milagres (é verdade que costurou um acordo entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte) e Obama não é demagógico a ponto de fixar datas para a criação de um Estado palestino. No cronograma existe a urgência para deter a escalada de destruição e desumanização mútua do inimigo. Obama, é claro, não pode superestimar sua capacidade de conquistar corações e mentes em todas as partes com sua boa prosa.
Maximalistas no mundo árabe-islâmico vão desprezar os gestos conciliatórios. Para eles, Obama já pisou na bola, pois escolheu a televisão Al Arabiya (de capital saudita e mais moderada) para esta entrevista, ao invés da mais estridente Al Jaazera. Do lado israelense, pode ocorrer uma preocupante estridência eleitoral, se Benjamin Netanyahu (o líder da direita) sair consagrado nas eleições de 10 de fevereiro.
Obama cumpre bem o seu papel inicial, mas não é o único dono da cena.

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