Se as idéias vestissem roupas, hoje, posse do Obama, seria o dia de ver o Bloco das Piranhas passar. Quem era antiamericano até ontem, anti-imperialista até o osso, teria malocado um vestido, tomado um batom emprestado e se travestido não só em crente, mas em crente sorridente nas boas intenções do novo líder daquela que ainda é a maior potência militar e econômica deste planeta. A farda, bem, a farda teria ficado em casa guardada, dobrada.
Fato: idéias não vestem roupas. Mas, mesmo assim, há algo de fantasia, um espírito luxo-originalidade meio Clóvis Bornay, nas opiniões subitamente carnavalescas de quem nunca foi de jogar confete em presidente americano. "Obama veio para mudar", "Obama pode corrigir muitas injustiças globais", "Obama é muito mais sofisticado, não é maniqueísta" – na boa, essa turma de neomadalenas arrependidas sequer ouviu o discurso do Obama? Pode até ser que ele venha a fazer tudo isso, que o diga a voz da esperança audaz (ou histérica), mas, se ele entregar metade do que promete, será do alto de uma "colina", iluminado pelo "farol" do que alguns chamam de "religião cívica americana". A "língua" que o Obama falou hoje é a mesma do Bush, a mesma do Reagan, a mesma do Wilson. A "nação escolhida", a "missão", os "santuários" na forma de campos de batalha, o poder de se transformar olhando para dentro e para cima: esses temas estavam todos lá.
É um exercício anti-histórico, mas creio que, se um caipira republicano tivesse pronunciado o mesmo discurso, os trechos que mais encantaram o "mundo" na boca do Barack seriam os mesmos que fariam a turma trovejar de fúria à moda "No Pasarán". A diferença, que faz dos fardados de ontem as piranhas carnavalescas de hoje, é o ethos da retórica do Obama: o que ele é, o que ele traz, o que ele diz mesmo sem dizer. Em língua de gente, o sujeito é danado. Das duas uma: ou as "piranhas" descobrem isso numa quarta-feira de cinzas qualquer, ou acabarão papadas pelo IMPÉRIO, ao som de Barry White. There ain't no power like soft power, baby.

1 Comment:

  1. Lucas Getirana said...
    como disse no msn, não concordei muito com seu texto.
    o americano é muito patriótico e o discurso de qualquer político de lá envolve o patriotismo exarcebado e esse pensamento de que os EUA devem salvar o mundo; é natural, para eles. e esse segundo aspecto(o de que o USA é quem mantém o mundo nos eixos) não foge muito da realidade, na minha opinião. acho sim que a posse do Obama tá sendo muito disvirtuada por todos e a esperança depositada no governo dele está passando dos limites, mas que o homem tem o poder de ajeitar muitos problemas com simples ações, isso tem - minha opinião.

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